top of page
Márcia Fervienza

O poder escondido dos traumas não elaborados


O poder escondido dos traumas não elaborados | Márcia Fervienza Astrologia | Rio de Janeiro

Um dos temas mais delicados de tratar em coaching ou terapia é o trauma emocional ou psicológico. Devido a sua natureza dolorosa, quando traumatizados, a maioria de nós evita lidar com o trauma a todo custo. Acreditamos que, se tratarmos de esquecer, tudo eventualmente ficará bem. Mas a verdade é que ao tentar esquecer estamos somente "empurrando" a dor para debaixo do tapete (o nosso inconsciente), o que requer uma mobilização gigante de energia vital. E a energia utilizada para isso fica indisponível para a gente para outras tarefas, como o engajamento com atividades do aqui e agora que poderia nos fazer mais felizes (ou poderia nos aproximar da nossa felicidade): o alcance dos nossos objetivos, a realização dos nossos sonhos, a busca por um trabalho melhor, um relacionamento mais saudável, etc. Não somente isso: traumas não resolvidos, embora mantidos fora da nossa mente consciente, continuam funcionando como obstáculos no caminho da nossa realização pessoal. Mas, o que exatamente é um trauma, o que o causa e como lidar com isso?

O que é trauma?

De acordo com o DSM-IV-TR (Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais), trauma é o resultado de uma experiência pessoal direta que envolve:

- Morte, ou ameaça de morte;

- Ferimento grave, ou ameaça de;

- Ameaça à nossa integridade física, ou à de um ser querido;

- O testemunho de um evento que envolva qualquer uma destas experiências.

Em outras palavras, um trauma psicológico ou emocional é qualquer tipo de dano à mente que ocorra como consequência de um evento extremamente angustiante que ameaça (ou seja percebido como ameaça) a nossa sobrevivência ou senso de segurança, ou a de um ser querido. A traumatização ocorrerá quando nossos recursos internos e externos forem insuficientes para lidar com a ameaça externa, real ou percebida.

Embora uma variedade de situações possa causar trauma, as experiências mais traumáticas (ou aquelas com maior potencial para causar trauma) possuem algumas características em comum:

- Geralmente existe uma violação daquilo que entendemos sobre o mundo e/ou dos nossos direitos humanos, colocando-nos em um estado de extrema confusão.

- Existe uma quebra no nosso sentido de segurança pessoal, especialmente quando as experiências violentas ou abusivas acontecem em lugares onde deveríamos nos sentir seguros (nossa casa, a casa dos nossos pais ou de um familiar, nosso ambiente de trabalho, etc.) ou quando a violência parte de alguém que deveria nos proteger (nossos pais, familiares, amigos, parceiros, etc.). Situações estressantes que acontecem tanto em um lugar onde deveríamos nos sentir seguros e que vêm de alguém que deveria nos proteger são especialmente traumáticas, especialmente se ocorridas na infância.

- Situações de violência inesperada que perturba nossa rotina diária também podem ser extremamente traumáticas, incluindo catástrofes naturais (tais como terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis, etc.), acidentes de transporte em massa (acidentes de trem ou avião) e violência interpessoal em massa (como guerra e ataques terroristas).

Obviamente, nem todo mundo que é exposto a um evento traumático fica traumatizado e, entre os que ficam, o trauma se manifesta de diferentes maneiras. Mas geralmente o trauma vai ocorrer sempre que uma pessoa for submetida a uma enorme quantidade de estresse que supere a sua capacidade de lidar com a experiência (e o que é considerado "uma quantidade enorme de estresse" vai variar de pessoa para pessoa). Seja devido a falta de maturidade emocional ou intelectual, a pessoa não consegue entender os sentimentos suscitados pela experiência, e não consegue processar as emoções envolvidas. Incapaz de elaborar o conteúdo emocional e psicológico perturbador ao mesmo tempo em que precisa lidar com os eventos imediatos, o ocorrido acaba deixando no indivíduo consequências negativas sérias de logo prazo. Mas quais consequências?

As consequências do trauma

Cada pessoa é afetada por eventos de qualquer natureza de acordo com a sua própria experiência subjetiva da realidade, sua maturidade física e psicológica, seu contexto e seus filtros. Nos casos mais difíceis, algumas pessoas desenvolvem transtornos mentais que criarão algum nível de comprometimento em sua rotina diária. Por exemplo, algumas pessoas se tornarão extremamente ansiosas ou fóbicas a ponto de não conseguir levar uma vida social ou profissional dentro do esperado; outros podem desenvolver insônia crônica que afeta a sua produtividade em casa ou no trabalho no dia seguinte. Outros poderão se envolver compulsivamente (e inconscientemente) em relacionamentos e situações que permitam uma constante repetição da experiência traumática (com novos personagens), talvez em busca de uma resolução diferente para ela. O denominador comum, no entanto, é que a dor emocional reprimida encontrará formas de permear o consciente até que seja devidamente trabalhada. E é o esforço de mantê-la reprimida e inconsciente para manter as nossas vidas medianamente funcionais que consome a quantidade enorme de energia da qual falei no primeiro parágrafo.

"A gente repete aquilo que a gente não repara." - Christine Langley Obaugh

Claro que nada disso ocorre voluntariamente. A repressão é um mecanismo de defesa empregado pelo ego (a parte consciente das nossas mentes) que tenta manter conteúdos dolorosos ou perturbadores fora do nosso campo consciente para evitar que nos machuquem. Sua intenção é nos proteger, e a maneira como tenta fazê-lo é promovendo uma amnesia (parcial ou completa) do evento traumático, ou através da dissociação da emoção gerada pelo evento da memória do mesmo. Assim, uma pessoa que foi violentada sexualmente na infância pode não ter nenhuma lembrança do ocorrido na idade adulta, ou pode lembrar do evento mas não sentir nada ao pensar nele. É aqui que surgem os sintomas e as disfunções que os médicos não conseguem curar nem entender (dores inexplicáveis, insônia, pensamentos negativos, etc.). Como resultado, o indivíduo pode, então, passar anos da sua vida tentando sem sucesso tratar (ou conviver com) a doença, ou pode adotar o que os psicanalistas chamam de "compulsão por repetir": ou seja, a pessoa constrói a sua vida ao redor de situações e relacionamentos que permitem reviver o trauma original de maneira "disfarçada" com novos personagens, não somente tentando encontrar um novo resultado para aqueles eventos ("quem sabe se eu fizer algo diferente desta vez eu consigo conquistar o amor do meu pai/mãe?"), como também permitindo atribuir os sentimentos dolorosos criados pelo trauma original às situações atuais. Assim, quando uma pessoa que foi abusada sexualmente na infância se sente rejeitada ou usada pelo namorado (que realmente a usa e rejeita) ela pode atribuir este sentimento ao tratamento que recebe agora do namorado atual, sem associá-lo ao evento original. Se não houvesse o tal namorado (que provavelmente é uma réplica do seu abusador da infância) o sentimento de rejeição e menos valia estaria presente, mas sem poder associá-lo a nada no presente, ela seria obrigada a investigar seu passado e suas memórias, para tentar encontrar uma forma de exterminar a dor, que é o que o ego e a repressão estão tentando evitar. Assim, a repetição destes eventos permitem manter as memórias e sentimentos do evento original fora da consciência.

Obviamente a repetição não traz resultados diferentes, porque não se trata de algo que fizemos ou deixamos de fazer. Não temos nem culpa pelo que nos aconteceu, nem o poder de modificar a situação, porque fomos vítimas e não algozes. E quando vemos que apesar dos nossos melhores esforços os resultados atuais não são diferentes, quando vemos que não somos amados nem tratados melhores, independente do quão submissos sejamos; quando nos traem ou nos abandonam sempre, como fez nosso pai; quando não nos respeitam, como fazia nossa mãe; quando os resultados não mudam, acabamos acreditando que não somos merecedores de nada melhor, que este é o nosso "carma" ou destino, e tentamos nos conformar de que aquilo é o melhor que podemos conseguir da vida.

Como resolver isso

Embora a repressão seja um mecanismo de defesa que cria neurose (conflito emocional e inconsciente que é manifestado através de doenças físicas ou mentais), a sua ausência em um indivíduo que não está psicológica ou emocionalmente maduro o suficiente para lidar com o trauma pode levar a resultados muito mais devastadores. Ou seja, embora a repressão não seja um processo que ocorre conscientemente e embora seja prejudicial, existe uma razão para que ela exista, e nós não podemos perder isso de vista. Assim, o trabalho de tornar consciente sentimentos ou memórias inconscientes nunca deve ocorrer sem ajuda profissional.

Mas precisa ocorrer, porque precisamos que toda aquela energia usada para manter sentimentos e memórias dolorosos fora do consciência volte a ficar disponível para a gente. Precisamos daquela força para lutar pelos nossos sonhos, alcançar nossos objetivos e atingir nossas metas. Precisamos dela para encontrar dentro da gente a motivação que nos impulsione a fazer mais, querer mais, ser mais. Precisamos mergulhar em nós mesmos para descobrir o que está rolando lá dentro e poder escolher parceiros melhores, amigos mais leais, trabalhos que nos façam sentir realizadas. Assim, rompemos com os comportamentos repetitivos e automáticos. Independente do que te mantém acordada de noite, quando você abre a porta daquele armário assustador, olha embaixo da cama e acende a luz você descobre que de noite tudo parece mais assustador, e que quando você olha seus monstros nos olhos eles nem são tão terríveis assim.

Você é muito mais forte do que pensa, e precisa descobrir isso pra começar a viver já a vida maravilhosa que te espera!

0 comentário

コメント

5つ星のうち0と評価されています。
まだ評価がありません

評価を追加
bottom of page