As relações entre pais e filhos costumam ser relações que trazem em si consideráveis conflitos. Quando são saudáveis e funcionais, são maravilhosas: nos servem como um adorável refúgio em noites de tempestade, são o ombro (ou colo) imprescindível para os momentos de dor, e são a rede de suporte que nos apoia quando nossas pernas não dão conta do recado. Mas e quando a relação é tumultuada, abusiva e cheia de conflitos? Como lidar com isso?
Crescemos ouvindo que pai e mãe são para a vida inteira. Esta frase traz em si a mensagem implícita de que podemos renunciar a tudo na vida, menos a pai e mãe. Diz-se o mesmo a respeito dos filhos e de outros familiares consanguíneos (irmãos, avós, etc.). E embora esse suposto traga consigo alguma magia em sua garantia enviesada de amor eterno, traz em si também uma condena: a de que não importa como tratemos um ao outro, estamos obrigados a estar juntos e a conviver, custe o que custar.
Se por um lado essa abordagem nos oferece a realização de um desejo infantil de amor eterno e incondicional, o que acalma a ansiedade inerente ao ser humano diante da possibilidade de abandono e perda do amor materno, também nos torna preguiçosos, desleixados e negligentes: se eu sei que seu amor por mim é incondicional, por que vou cuidar de você ou da nossa relação? Eu sei que nada (repito: NADA!) do que eu faça coloca em risco o que temos. Logo...
Embora os mais românticos e idealistas possam defender que amor condicional não é amor, eu particularmente acredito que este pensamento não é realista. Em minha experiência, eu ainda não vi nada na vida que não fosse condicional. Aliás, eu nunca vi o ser humano se engajar em nenhuma atividade que não lhe gerasse benefício próprio. E se lhe gera benefício, é condicional. Nem mesmo supostos atos de altruísmo são inteiramente altruístas, porque se saber que estamos fazendo algo de bom para outra pessoa libera endorfinas no cérebro, e se isso faz com que nos sintamos bem a respeito de nós mesmos, este é o nosso benefício pessoal. Portanto, do que estamos realmente falando quando falamos da incondicionalidade do amor?
Precisamos desconstruir algumas crenças prejudiciais passadas de geração a geração, que são aceitas sem ser questionadas, abordando-as com objetividade e lógica, porque muitas destas ideias servem apenas para nos manter aprisionados em situações dolorosas, o que beneficia somente a uma pequena minoria – geralmente, a minoria que exerce poder sobre a gente e nos causa sofrimento de alguma forma.
É hora de resgatar o seu poder nestas situações! Pense nisso!
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