Estamos atravessando um momento de importantes mudanças sociais e culturais. Você pensará: “Mas espera aí: o astrólogo X, o astrólogo Y e o astrólogo Z não falaram a mesma coisa no ano passado, no ano retrasado e há 5 anos atrás? Estamos sempre atravessando um 'momento de mudanças importantes'?” De certa forma, sim! Sempre há algum trânsito astrológico em andamento afetando alguma parte da nossa experiência humana, seja a nível pessoal ou a nível social.
Neste momento, à primeira vista parece predominar a luta pelo empoderamento feminino e pelo fim do patriarcado. Mas, embora estes sejam assuntos relevantes socialmente, eles são apenas um aspecto das mudanças que estamos atravessando. Também estamos discutindo identidade de gênero, novas possibilidades para a orientação sexual de cada um, e estamos reavaliando todas as demais definições que nos serviram como referências sociais e culturais até agora, mas que parecem ter deixado de servir. Em outras palavras, parece que o que estamos vivendo é uma quebra de estruturas que exclui quaisquer definições que possam criar constrangimentos para que as pessoas exerçam livremente sua essência e personalidade.
Tentando entender este momento e prever resultados, muitos olham para o céu em busca de trânsitos astrológicos que justifiquem esse panorama que vem se desenhando há vários anos. Mas a verdade é que vários trânsitos significativos de planetas lentos através dos signos começaram e terminaram, e as mudanças não só continuam em processo, mas se aprofundam cada vez mais, atingindo diferentes áreas da nossa experiência. Onde será, então, que podemos encontrar uma analogia astrológica que nos ajude a entender o que está ocorrendo?
Adotemos uma perspectiva mais ampla. Durante os últimos 6.000 anos vivemos a era do patriarcado. Desde que adquirimos tecnologia para armazenar comida e deixamos de ser nômades, desde que se tornou possível possuir terras e bens imóveis, o patriarcado predominou. Por que? Para garantir que terras fossem transmitidas de pai para filho e ficassem dentro de uma mesma família. Com isso, foi necessário criar regras que garantissem aos homens que seus filhos eram realmente seus. Uma delas foi a regulação do corpo da mulher e de sua sexualidade. Assim chegamos à opressão do feminino que hoje lutamos para reverter.
Este modo de viver nos serviu por muito tempo. O foco no homem, ou no lado ativo e empreendedor da natureza humana, nos permitiu crescer e expandir nossa presença globalmente como espécie. Progredimos evolutivamente, exploramos novos horizontes e aprendemos que somos responsáveis por como nossa vida se desenvolve, que precisamos construir ativamente o destino que queremos ter. Agora parece que estamos buscando um lugar mais relevante e ativo para a mulher e sua capacidade realizadora na sociedade. Eu, no entanto, acredito que, a nível mais amplo, a busca é por maior liberdade e neutralidade. Nem patriarcado, nem matriarcado. Nem homem nem mulher. Nem energia masculina nem energia feminina. Nada de escolha, mas sim espaço para ambas. Ou então que não prevaleça nenhuma das duas. Em outras palavras, o movimento parece ser de dissolução de toda forma de estrutura limitante, em nome de maior flexibilidade, fluidez e respeito pelo desejo individual. Parece que desejamos romper com a forma como nos definiram até agora em prol do direito de cada um de se definir segundo lhe dite sua essência. Tudo isso cria confusão para os mais velhos, mas parece ser extremamente natural para os mais jovens, gerando uma cisão social onde as gerações parecem não falar o mesmo idioma.
É claro que sempre houve, naturalmente, um desencontro entre os jovens e os mais velhos, devido ao progresso natural que ocorre a cada nova geração. Me lembro claramente, quando eu era criança, da minha avó me dizendo que não entendia a transexualidade, porque não entendia como estas pessoas escolheriam o banheiro público que usariam. Para mim, aquilo não parecia um conflito em absoluto. Mas para ela era super confuso. Agora deixamos de ter pessoas que definem sua orientação sexual e que, em lugar disso, preferem deixa-la em aberto, para vivenciar aquilo que desejarem, segundo se apresentem as situações. Me pergunto como minha avó lidaria com isso.
Todo esse movimento de liberação e de rompimento de estruturas me remete à simbologia do signo de Aquário. Mas de que forma Aquário e estes processos se relacionam, se não temos nenhum trânsito relevante ocorrendo no signo de Aquário neste momento?
Tomemo-nos um momento para pensar no ciclo evolutivo da humanidade como um todo. Vejamos os ciclos de Eras astrológicas, por exemplo, que resultam da precessão dos equinócios. Estes ciclos descrevem o movimento retrógrado do eixo terrestre, que leva aproximadamente 25.900 anos para completar uma rotação. Como o eixo da Terra está ligeiramente inclinado, ele aponta para uma constelação diferente a cada ciclo, o que determina o ciclo astrológico que estamos vivendo. Tal Era, então, “colore” a nossa experiência na Terra através de várias gerações. Ela funciona como um plano de fundo para o que quer que esteja rolando.
O patriarcado, por exemplo. Quando ele teve inicio, há mais ou menos seis mil anos atrás, estávamos no começo da Era de Touro, que foi uma época extremamente voltada à experiência de sobrevivência e ao desenvolvimento de habilidades que pudessem garantir tal sobrevivência. Aprendemos, então, o que precisávamos fazer como espécie para garantir nossa longevidade e para controlar o nosso próprio destino. Depois da Era de Touro entramos na Era de Áries (lembre que o movimento do eixo terrestre é retrógrado – ou seja, acontece para trás através dos signos do zodíaco), o que priorizava a ação direta e o movimento assertivo baseados nos valores coletivos desenvolvidos durante a Era de Touro. Em seguida, veio a Era de Peixes, que já dura pelo menos 2.000 anos. Durante esta época, descobrimos novas formas de nos reunirmos coletivamente, e tentamos nos fundir com aqueles conceitos que entendíamos como verdade absoluta.
Agora acredita-se que estamos às portas da Era de Aquário. Aqui, é preciso um esclarecimento: existe um grande debate na comunidade astrológica a respeito da data de entrada exata. Para alguns astrólogos, ela foi em novembro de 2011; para outros, em dezembro de 2012. E para outros, ainda não entramos e não entraremos pelos próximos 40 ou 50 anos.
Por que tanta discordância? Porque estamos falando de uma transição entre Grandes Eras. Devido à sua duração (aproximadamente 2.100 anos), a passagem de uma Era para outra poderia sim levar 100 ou 200 anos, período durante o qual estaríamos ainda sob as manifestações da Era anterior, mas já vivendo vestígios da Era seguinte. Os que defendem que ainda estamos sob a Era de Peixes, por exemplo, alegam que o mundo ainda está vivendo sob superstições religiosas, sistemas de crença obsoletos e sob o desejo de encontrar um Salvador que solucione todos os problemas. Esta é uma mentalidade bastante pisciana.
Por outro lado, temos observado a revolução de ondas longas em eletromagnética, o rompimento com definições que limitam, a busca por uma identidade que esteja alinhada com a verdade de cada um independente das expectativas sociais, a luta pela aceitação de um coletivo mais diverso e menos uniforme, e a eliminação de preconceitos, todos assuntos muito relacionados ao signo de Aquário. Em outras palavras, ainda estamos lidando com o antigo, embora manifestações do novo já estejam se apresentando.
Para entender melhor este processo, pense no ponto de união entre dois oceanos. Por exemplo, o oceano índico de águas mornas e o oceano atlântico de águas geladas. Não é possível delinear com exatidão onde começa um oceano e onde termina outro, porque esta fusão ocorre ao longo de aproximadamente 200km de águas, onde a fauna e a flora de ambos se mesclam. O mesmo ocorre com a transição entre Eras.
Trânsitos astrológicos são relevantes nesta transição. Por exemplo, espera-se que a entrada de Plutão em Aquário em 2023 ajude a espalhar sementes que já foram plantadas no inconsciente coletivo durante a passagem de Urano e Netuno por este signo. Antes porém, em 2020, teremos a conjunção de Júpiter e Saturno em 0°31’’ de Aquário (em 22 de dezembro), o que (espera-se) marcará mais uma etapa significativa em direção à essa nova Era.
Muito complicado? Provavelmente. Mas o importante não é definir exatamente quando termina uma Era e quando começa outra. O importante é estar atento às “pequenas” transformações que os trânsitos astrológicos indicam a nível individual e social para poder observar melhor as “dicas” que eles vão deixando ao longo do processo sobre como tais transformações irão compondo uma nova experiência coletiva e transgeneracional.
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